O que seria a Indústria 4.0?
ANÁLISES TÉCNICAS
O desenvolvimento, incorporação e aplicação de recentes
inovações tecnológicas têm provocado mudanças sociais e econômicas. Estas
mudanças, em acelerada expansão, alcançaram uma escala e escopo significativos,
de modo que diversos estudos técnicos têm sugerido que estaríamos iniciando uma
quarta revolução industrial. A indústria 4.0 consiste em uma indústria sob
novas configurações, moldada por esta quarta revolução industrial.
Uma revolução industrial é caracterizada por mudanças
abruptas e radicais, motivadas pela incorporação de tecnologias, tendo
desdobramentos nos âmbitos econômico, social e político. Há um consenso sobre a
ocorrência de três revoluções industriais. A primeira deu-se entre 1760 e 1840,
movida por tecnologias como máquinas a vapor e linhas férreas. A segunda deuse
entre o final do século XIX e início do século XX, tendo como principais
inovações a eletricidade, a linha de montagem e a difusão da produção em massa.
A terceira, que se iniciou na década de 1960, rompeu com paradigmas por meio do
desenvolvimento de semicondutores e tecnologias como mainframes, computadores
pessoais e, mais tarde, nos anos 1990, a internet. Porém, com um grande
desenvolvimento e difusão de algumas das tecnologias da terceira revolução
industrial, assim como o advento e incorporação de outras tecnologias, autores
têm sugerido que, no começo do século XXI, teríamos dado início a uma quarta
revolução industrial.
O termo Indústria 4.0 foi primeiramente utilizado durante a
Hannover Fair, em 2011, onde foi proposta uma nova tendência industrial com o
desenvolvimento de “smart factories”. As ditas “smart factories” relacionam e
articulam sistemas virtuais e físicos que, combinados a redes e plataformas digitais com viabilidade de abrangência globais,
proporcionam cadeias de valor revolucionárias.
O professor Klaus Schwab, em um trabalho publicado em 2016
intitulado The Fourth Industrial Revolution, sugere que estamos passando pela
quarta revolução industrial, sendo esta uma revolução digital. Esta revolução digital
seria motivada por tecnologias como internet móvel, inteligência artificial,
automação, “machine learning” (robôs e computadores que podem se autoprogramar
e chegar a soluções ótimas, partindo de princípios pré-determinados, incorrendo
em aprimoramentos nesta capacidade de autoprogramação), além do aperfeiçoamento
de sensores tornando-os menores e mais potentes possibilitando, assim, a
internet das coisas. Aprimoramentos no campo genético e na nanotecnologia são,
também, apontados por Schwab como algumas das tecnologias causadoras desta
revolução em curso e de futuras disrupções.
Embora algumas das tecnologias da quarta revolução
industrial como softwares, hardwares e a internet tenham sido desenvolvidas na
terceira revolução industrial, estas sofreram e estão sofrendo um aprimoramento
e aperfeiçoamento notável. A internet, por exemplo, com uma difusão e
barateamento do acesso, incremento da capacidade e velocidade de transferência
de dados, assim como a internet móvel, fizeram com que a internet se tornasse
onipresente se comparada à mesma rede nos anos 1990. Outro exemplo seriam
tecnologias como a internet das coisas e o Big Data (advindas de um
extraordinário desenvolvimento da tecnologia da informação da terceira
revolução industrial) que, combinadas, possibilitam um maior engajamento de
consumidores por meio de produtos e serviços que antecipam necessidades dos
usuários. O aprimoramento destas tecnologias, combinado a inovações recentes,
proporcionaram possibilidades nunca antes vistas que caracterizam a quarta
revolução industrial.
Segundo Klaus Schwab, esta revolução possui diferenciais
frente às demais que vão além da absorção de tecnologias revolucionárias e
disruptivas. Um destes diferencias seria o potencial de inovação e a amplitude
de campus científicos distintos que essas inovações se dão, de modo que, no
momento presente, o globo concebe inovações de maneira muito mais rápida que em
qualquer outro período histórico e sobre um escopo mais amplo. Outro
diferencial consiste na integração mais ampla de disciplinas, âmbitos e
tecnologias divergentes - o autor aponta como tendência uma fusão e interação
cada vez maior entre tecnologias, unindo domínios digitais, físicos e
biológicos.
Segundo relatório do BCG (Boston Consulting Group), são nove
as principais tecnologias da indústria 4.0, sendo estas determinantes da
produtividade e crescimento das indústrias sobre esta nova configuração. Tais
tecnologias são:
1. Robôs automatizados: além das funções atuais,
futuramente, serão capazes de interagir com outras máquinas e com os humanos,
tornando-se mais flexíveis e cooperativos.
2. Manufatura aditiva: produção de peças, por meio de
impressoras 3D, que moldam o produto por meio de adição de matéria-prima, sem o
uso de moldes físicos. 3. Simulação:
permite operadores testarem e otimizarem processos e produtos ainda na fase de
concepção, diminuindo os custos e o tempo de criação. 4. Integração horizontal e vertical de
sistemas: sistemas de TI que integram uma cadeia de valor automatizada, por meio
da digitalização de dados. 5. Internet
das coisas industrial: conectar máquinas, por meio de sensores e dispositivos,
a uma rede de computadores, possibilitando a centralização e a automação do
controle e da produção. 6. Big Data e Analytics: identifica falhas nos
processos da empresa, ajuda a otimizar a qualidade da produção, economiza
energia e torna mais eficiente a utilização de recursos na produção. 7. Nuvem:
banco de dados criado pelo usuário, capaz de ser acessado de qualquer lugar do
mundo, por meio de uma infinidade de dispositivos conectados à internet. 8.
Segurança cibernética: meios de comunicação cada vez mais confiáveis e
sofisticados. 9. Realidade aumentada
(“Augmented Reality”): sistemas baseados nesta tecnologia executam uma
variedade de serviços, como selecionar peças em um armazém e enviar instruções
de reparação por meio de dispositivos móveis.
A indústria 4.0 terá impactos diversos. Podemos citar algum
deles, tais como: ganhos de produtividade, substituição do trabalho por capital
e retornos crescentes de escala. Estes impactos, dentre outros, serão
aprofundados e discutidos, sendo o tema do próximo Boletim de
Digitalização.
O Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC aponta como o
principal desafio relacionado à indústria 4.0 o fato de os níveis de
entendimento sobre o tema pelas lideranças público e privada estarem abaixo do
necessário para adequar nossos sistemas econômico, social e político às
mudanças que estamos vivendo e que estão por vir. Logo, os requisitos institucionais
em nível global são inadequados e/ou despreparados para mitigar as
consequências das disrupções e impactos que virão. Em relação aos requisitos
institucionais, no nível nacional, o Brasil necessita aprimorar seus níveis de
entendimento e discussão sobre os determinantes e impactos da indústria 4.0
para, assim, poder acompanhar esta quarta revolução industrial, reduzindo
externalidades e impactos negativos, assim como atingir o potencial e os
benefícios de longo prazo que a indústria 4.0 tem a oferecer.
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